Já assistiu o filme NO? É uma ficção, baseada em fatos reais, de Pablo Larraín que narra a história de René Saavedra. O publicitário que foi responsável por coordenar a campanha do “Não” no referendo de abertura política do Chile.

Hoje, além de falarmos um pouco da história do filme, abordaremos algumas lições importantes que ele nos traz sobre comunicação.

Obs: Não daremos spoilers, pois queremos que você assista o filme ;)

Contexto histórico do filme

NO se passa no período final da ditadura chilena. Depois de mais de 10 anos de repressão, a comunidade internacional pressiona Pinochet a redemocratizar o Chile. Cedendo a essa pressão, o General faz um referendo no qual a população chilena teria que votar pelo “sim” ou “não”. A primeira opção faria com que o ditador continuasse no poder de maneira “democrática”, enquanto o não abriria o cenário político para as eleições livres, dando fim à ditadura.

O filme NO é chileno, se trata de uma verdadeira aula de história e de comunicação dentro da política. Falaremos um pouco sobre as lições dessa película que concorreu ao Oscar e foi exibida em Cannes.

A Campanha pelo NO

Não só no filme, mas na realidade, a confiança do General e de seus correligionários pela manutenção do poder era altíssima. Todas as pesquisas mostravam uma larga vantagem do “Sim” o que deixava a impressão de que a campanha pelo “Não” nem iria valer a pena.

René Saveedra é convocado para comandar a campanha pelo “Não”. A ideia de alguns membros da militância era chamar alguém que sacasse de publicidade e passasse a mensagem que eles desejavam.

Saveedra era filho de exilados e sua mulher era uma militante ferrenha contra a ditadura de Pinochet, por isso que os dirigentes da campanha optam por chamá-lo.

A importância do olhar publicitário em uma campanha política

Na primeira reunião há um embate entre a militância e Saveedra. No tempo, a televisão chilena disponibilizou 15min para cada parte envolvida da eleição. O pessoal dos movimentos sociais queriam usar esse tempo para falar sobre o terror da ditadura, mostrando pessoas desaparecidas, torturas e coisas do tipo. Porém, o olhar de mercado que ele tinha era claro, aquilo não iria convencer o povo chileno a votar no “Não”.

Os militantes achavam que a eleição era “comprada” que o “Sim” ganharia de todo jeito e que a mensagem das propagandas tinha que ser algo pesado contra a repressão estatal. René acreditava que havia chances da eleição ser ganha e de acabar com a ditadura, por isso o tom comunicacional deveria ser outro.

Como afrontar o medo da repressão?

A ditadura chilena foi uma das mais sanguinárias da América do Sul. O resultado disso foi o medo que se instaurou na sociedade e que se refletia no período do referendo. As pessoas ficavam amedrontadas de saírem às ruas e protestar, de expor sua real opinião.

Entendendo esse contexto que Saveedra consegue “virar o jogo”. O conceito da comunicação deve ser o de alegria e não de terror. As pessoas se engajam por sentimentos felizes, por isso há uma mudança no conceito da campanha. Ela ganha uma roupagem mais leve e suave, os chilenos abraçam pois passam a acreditar na alegria que a liberdade do voto pode passar.

René entende que mostrar a maioria da população querendo o fim da ditadura, deixaria claro a vontade popular em caso de uma possível fraude. Logo, a violência do estado deveria ficar mais à margem da comunicação, a fim de encorajar o povo a ir às ruas e apoiar o “Não”.

Acredite no que você está promovendo

O crescimento do “Não” depois que o publicitário assume é notório. As pesquisas começam a demonstrar isso, deixando Pinochet e todos os seus coordenadores de campanha sem saber o que fazer. Tendo o poder de repressão dos militares em mãos, Pinochet tenta sabotar de todas as formas a campanha da oposição e o filme mostra alguma dessas “ações”.

O que impressiona é que ao invés de desestimular, a campanha ganha mais força. As pessoas ao redor do processo, mesmo com o medo da repressão, se engajam mais ainda pela causa. Resultado: o povo chileno adota o arco-íris e o jingle do “Não”, se unindo em favor da democracia e derrotando a ditadura.

O filme No é chileno, se trata de uma verdadeira aula de história e de comunicação dentro da política. Falaremos um pouco sobre as lições dessa película que concorreu ao Oscar e foi exibida em Cannes.

Observações finais para quem é fã de cinema latino

Apesar de ser uma história que todo mundo conhece o final, ver seu desenrolar é muito bom. O diretor Pablo Larraín foi muito feliz em diversos aspectos da produção. Um dos que chamam mais atenção é o uso de câmeras U-matic 3:4, muito utilizadas na década de 80. Com elas, ele consegue reproduzir bem a atmosfera daquele período. O filme ainda conta com as propagandas verdadeiras da época, deixando quem assiste mais imerso no processo eletivo.

A película concorreu em 2013 ao Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro” e foi exibida no festival de Cannes. Logo, se você é apreciador de cinema e, mais ainda, das produções latinas, não deixe de assistir NO.

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